por Antônio Marcos Dutra da Silva Puri¹
A constituição do povo Puri na atualidade, ou de uma história do povo Puri atual não seria possível sem a história de dois personagens fundamentais: Jurandir e Seu Neném. O primeiro recebeu de seu pai a incumbência de ser guardião da Dança de Caboclo que dá identidade ao povo Puri e fora registrada desde a primeira metade do século XIX. Jurandir teve seu papel analisado em trabalhos acadêmicos² enquanto coordenador, mas seu papel foi fundamental na retomada Puri, posto que em sendo o primeiro a identificar-se publicamente enquanto indígena autodeclarado Puri possibilitou a reorganização do povo para além dos limites regionais, alcançando outros indivíduos tocados pela Diáspora. Para Jurandir sua luta confunde-se ou continua a luta do povo que desde o século XVII enfrentou o extermínio, o cativeiro, e as infecções propositais dos agentes do processo de colonização. É nesse sentido que o nome anterior de Araponga “São Miguel das almas dos Arrepiados”³ sempre lhe despertara o interesse e a vontade de lutar pela memória dos “Arrepiados”, como eram denominados os Puri pelos idos do século XVIII, quando o território original acabou sendo retalhado por sesmarias que não respeitavam o território ancestral.
Jurandir veio ao mundo pelas mãos de uma parteira indígena, a mãe de Seu Neném, “uma segunda mãe”, que acabou também legando a este seu filho o sentido da luta indígena e preservação de conhecimentos. Nesse sentido, Seu Neném é uma pessoa fundamental na constituição da Escola Família Agrícola Puri (EFA), A escola fica na comunidade São Joaquim, em Araponga, zona da mata mineira, hoje, atende mais de 55 estudantes, do 1º ao 3º ano do ensino médio com base no conteúdo nacional integrado ao curso técnico agropecuário. Uma de suas características é a venda de mel produzido pelos estudantes nas aulas práticas, e a agroecologia como eixo pedagógico. Ao possibilitar o aprendizado da ecologia aliado ao ensino comum, Seu Neném permitiu que o conhecimento Puri em torno da preservação de ecossistema e a agricultura natural Puri sobrevivesse, e assim, Araponga hoje pode reconhecer sua identidade Puri viva, presente e pujante. Filhos de Araponga, Seu Neném e Jurandir são verdadeiras lideranças nacionais e referências atuais do movimento e vida Puri.
¹Bacharel e licenciado em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1998), é especialista em Relações Internacionais (Pós-Graduação Lato sensu em Relações Internacionais pela Universidade Cândido Mendes - 2009), Mestre em Relações Internacionais Pela PUC-Rio (2013), e Doutor em Ciência Política (IESP-UERJ). Faz parte do grupo de Pesquisa Beemote (IESP-UERJ). Desde de 2004 tem participado das atividades literárias, foi colunista do jornal impresso Tribuna da Impressa. Foi vencedor da Bolsa de Criação Literária FLIP (2004), e também vencedor do Prêmio Jeune Littérature Latino-Américaine (2008) promovido pela MEET (Saint-Nazaire) na França. De ambos os prêmios resultaram seus dois livros Matacavalos (2010) e Dias de Faulkner (2008), este publicado também na França. Tem desenvolvido pesquisa em Relações Internacionais, Literatura Brasileira, Pensamento Político Brasileiro, especialmente no século XIX ²Ver: FREITAS, Aline Luciana de. Uma análise da distribuição espacial da Dança de Cablocos “Folguedo dos Arrepiados” no território Serra do Brigadeiro. Viçosa: UFV, 2016. ³Vozes da Ressurgência Puri - Episódio II, Cátedra Paulo Freire – UFV In: https://www.facebook.com/watch/?v=580788315704315 consultado em 04 de outubro. 2020
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