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Foto do escritorPuri Vivo

Penenan Lonke e o Chindeda Aranan - A Flor Sapucaia e o Beija-Flor Aranan

Por Opetáhra Puri (Solange Reis)¹

Na cultura indígena acredita-se que o animal tem alma de gente. Quando um indígena morre, na cultura Puri, ele vira estrela, ou qualquer outro ser da natureza.

Nesta história, eu vou contar sobre um beija-flor (Chindêda) de alma humana da etnia Aranan, e uma flor (penenan) de lonke (Sapucaia) também com alma humana, a árvore sagrada para os que pertencem a etnia Puri. Região Sudeste do Brasil onde vivem as duas etnias, Povo Aranã, e o povo Puri.

Foi numa noite de inverno que tudo aconteceu. O beija-flor Aranan afastou-se da sua aldeia para um longo e demorado voo para conhecer outras terras, outras etnias, outras culturas.

Depois de muito voar, e sugar o néctar de várias flores, Aranan pousou na nguara (casa), onde habitam os Puri. Aranan avistou uma bela flor de olhos penetrantes e sorriso doce que logo o atraiu para um longo beijo que mudaria a vida daqueles dois indígenas apaixonantes.

Aranan deu um beijo doce e suave naquela florzinha e ficou deslumbrado e feliz, porque fora correspondido também com muita doçura.

Beija flor tem asas e pode voar tomando outros rumos, mas a flor teve que ficar junto a mãe arvore (lonke) Sapucaia para cumprir o seu ciclo.

Beija flor Aranan teve que voltar para sua aldeia, mas agora, apaixonado, não queria beijar outras flores, voou para bem longe, mas deixou o seu coração e a promessa de um dia voltar.

A pobre florzinha agarrava-se aos galhos da mãe arvore (lonke) Sapucaia para que o vento não a levasse, pois tinha muito medo do desconhecido. E seu desejo era ver novamente o seu amado.

O tempo foi passando, e nada do beija-flor voltar.

O tempo às vezes é muito ingrato conosco, e com a florzinha, foi mais ainda.

Porque enquanto ela esperava o seu amado, suas pétalas começaram a cair, seu brilho já não era mais o mesmo, suas esperanças já estavam se esgotando, seu corpinho agora já estava se transformando e mudando suas características.

Aconteceu então o que já era de se esperar, com a fraqueza da flor, o vento veio e a soprou, e não precisou soprar forte para que ela se desgarrasse de seus galhos e caísse na terra. No dia seguinte veio uma chuva muito forte com correnteza, A força dos ventos saiu arrastando-a para bem longe, e aquela florzinha já transformada em semente, preocupada e triste por achar que seu amado beija-flor não a reconheceria mais.

Sendo levada pela natureza, começou a experimentar novas sensações, e conhecer outros lugares, outras paisagens, até que a chuva cessou e ela viu que não era mais a mesma, tinha se tornado fruto e de tanto rolar pelo caminho, seu corpo não tinha mais a mesmas características de um fruto, mas como semente ela ia brotando raízes que voluntariamente se agarrava a terra.

A noite chegara, e mãe lua a contemplava. A terra, a acolhia com seu manto suave e quentinho, e a sementinha adormeceu.

No dia seguinte, O Sol com seus braços enormes acariciava seu rosto a acordando para um novo despertar.

Ao acordar, aquela que fora uma flor sonhadora, um fruto, semente, agora começava a se transformar numa mudinha que aos poucos ia crescendo, crescendo, crescendo, e se transformando numa belíssima arvore.

A primavera chegou, seus ramos começam a florir, seu perfume a exalar, sua cor rosa e linda agora chama a atenção dos pássaros e de vários outros seres vivos. A flor, já nem contava mais com a presença de Aranan, quando der repente, Aranan aparece, pousa em seu galho.

Do coraçãozinho da Árvore Sapucaia (Lonke bondjára), brotou a mais bela de todas as flores, e o beija-flor Aranan não perdeu tempo para novamente deixar seu beijo doce e apaixonado. E ali naquela árvore nova de (lonke) Sapucaia, ele construiu a sua n’guara (casa). Logo que florzinha soube, que crescera nas terras de Aranan, ficou muito feliz e agradeceu ao vento e chuva, terra e o Sol, a Lua e seus fies companheiros os seres vivos da natureza.

E Aranan o beija flor sonhava e não perdia a esperança, porque sabia que a cada ciclo, da primavera, estaria com sua amada, a flor de (lonke) Sapucaia Puri.

Agora, era ele quem esperava por ela, em cada primavera, e assim os dois eram felizes, e se amavam.


¹ Solange S. Reis/ Opetáhra Nhãmanrúri Puri /Coroado ( Sol Puri). Graduada em Educação do campo e ciências Naturais, Agente de Desenvolvimento Sócio Ambiental, Artesã, Contadora de História, palestrante, Podóloga com extensão em pés Diabéticos, Militante e ativista das causas dos povos originários, liderança indígena Puri/Coroado região Norte Fluminense, coordenadora cultural da ONG NEPP Núcleo Ecológico Pedras Preciosas (RJ), Diretora do Centro Cultural Aldeia Uchô Puri Coroado, São Fidélis- RJ.

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