Por Náma Puri - Carmelita Lopes²
A autora Zélia Balbina Puri, nossa Ponan Puri, nos apresenta seu texto - Memórias de Vida, Ancestralidade (2020) - com uma reflexão:
"Estive pensando sobre como escrever sobre nós, os indígenas, sobre sua cultura e religião. De repente me dei conta que não sou vista como “indígena”, afinal diz-se que os índios foram extintos, então, o que sou eu? Bem, acho que sou o resto de tudo aquilo que fomos um dia, faço parte de um povo que aqui viveu... Sou um resto de sangue que teima em queimar em minhas veias dizendo eu sou, eu sou, eu ainda sou! Faço parte de um povo que há muito foi banido de suas terras, como muitos outros povos. Os nativos que não se submeteram a colonização e então foram envoltos no véu da invisibilidade... outros foram atropelados pela ganância de seus pares. Depois de todos esses anos, ainda sinto no peito a dor de perder a terra sagrada. Meus ancestrais falam através de minha alma, na certeza de haver terra fértil para absorver as palavras, os cantos e todo conhecimento que não se calou! Os indígenas são pequenas obras de Deus para proteger sua criação. Foram afastados dessa missão, mas não se calaram e hoje ressurgem das cinzas como uma fênix. Estamos resgatando toda uma história adormecida, mas que continuou viva e hoje resplandece em um novo céu. Uma batalha foi perdida, as flechas destruídas. Hoje utilizamos a caneta como uma nova arma. Uma arma que desarma que instrui e encaminha. Precisamos levar os conhecimentos indígenas para as escolas, pois é nas crianças que está a esperança de um novo mundo, pois as crianças de hoje guiarão este País amanhã.” (pp.5-6)
O texto está dividido em RESGATE, RELIGIÃO, EDUCAÇÃO E CULTURA, PRECONCEITO e JUSTIFICATIVA. Traz, já na apresentação, um de seus poemas: VIDA QUE VIVE e outros poemas vão permeando toda a escrita, traduzindo em poesia sua fala.
A essência do texto está na parte onde relata sobre PRECONCEITO, onde aponta as várias formas de vencê-lo e como tem feito.
“São passos largos, mas que podem ser iniciados com os trabalhos de incorporação das culturas tradicionais nas grades escolares. Neste sentido já trabalhamos com oficinas variadas, onde damos os primeiros passos nesta direção.” (p.18).
Relato que conversa muito com a parte sobre EDUCAÇÃO E CULTURA.
É, entretanto, na JUSTIFICATIVA, parte final, que aborda a motivação da escrita de seu texto:
“Qual a importância de se falar sobre este assunto? Por que é importante este conhecimento?” (p.21)
retomando e reafirmando todo o escrito anterior e nos brindando com mais um de seus poemas.
Recomendamos sua leitura por considerarmos um texto escrito por uma voz que vem de dentro, codificada em poemas, com uma temática pertinente ao Povo Puri e àqueles que desejam saber mais sobre nós e nossas histórias tecidas em prosa e verso.
Texto na íntegra: CMPP
Semente: Tecendo Histórias
Pasta: Memória Viva
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¹Zélia Balbina é escritora/Poeta, pesquisadora, atriz e Produtora Cultural; criadora e coordenadora do Centro de Produção Cultural Mestre Raladinho (Maricá); membro da Associação Internacional de Poetas; membro da Academia Pan-americana de Letras e Artes; membro do InBrasCI (Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais); membro do Movimento de Poetas Del Mundo (do Chile); cofundadora do Movimento de Ressurgência Puri; e Embaixadora da Paz pelo Cercle Universel des Ambassadeurs de la Paix - Suisse/France.
²Pós-graduada em Especialização em Gerência de Projetos pela FGV, Graduada em Pedagogia e Letras pela FINAM – RJ e Profa. aposentada de Língua Portuguesa pela FAETEC. Cofundadora do Movimento de Ressurgência Puri, Conselheira do Conselho Estadual dos Direitos Indígenas – CEDIND/RJ. Náma Puri (Rio Puri) é o nome adotado na autodeclaração indígena da Etnia Puri.
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