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O Koróná – Um Canto Oracional Pury (*)

  • Foto do escritor: Puri Vivo
    Puri Vivo
  • 29 de mar.
  • 2 min de leitura

Nhãmãrrúre Stxutér / Felismar Manoel


O Koróná é um Canto Oracional Pury, um tipo de encantamento que se dirige às instâncias invisíveis mais poderosas, sejam elas da dimensão do mundo dos espíritos (lamã = espiritualidade), ou da dimensão do mundo das energias da natureza (tutáki = energia vital; tipímo = vigor).

A prática do Koróná demonstra uma atitude de confiança do simeõ/simeón (do indígena), ou da simeõbué (da indígena), por isto é uma prática insistente, continuada no tempo, pois tem a certeza de que a resposta do que se pede virá. Neste sentido, é um canto da esperança. É um canto pessoal e íntimo, numa relação entre a pessoa e a divindade e a única forma que o pury tem que se aproxima do que se pode chamar de religião.

Ele ocorre junto a natureza e poderá ser dirigido ao Grande Espírito (Eremá Lamã), ou seja, à Nhãmandú / Dokóra / Deus, às diversas divindades, (as Deuálamãe), como Tupã por exemplo, à natureza, aos encantados (gaiúnáe [iluminados] – os que moram nas árvores [ambóe] frondosas) e até mesmo aos irmãos de convivência, pois se crê que estes formam uma alma consciencial coletiva (tutákiára), que tende a se harmonizar com a Tekuára Sú.

Usa-se a linguagem gepáure, em gungunado, em resmungo, e nunca a linguagem koíuádaí. Nunca o falar claro para o estranho que ouvir. Uma súplica, um pedido insistente, sendo coisa justa e correta, da consciência do cantante para a consciência daquele, ou daquela a quem ele se dirige. Embora seja um canto oracional, lamuriante, em som audível, só é sabido, conhecido pelas duas consciências, a do cantante e daquele a quem o canto se dirige.

Para se praticar o Koróná se escolhe o local mais apropriado, onde se tem independência e concentração, mesmo na proximidade de outros; coloca-se as mãos em conchas(koríeká) junto à boca, pois a voz do canto ocorrerá dentro das conchas das mãos. O povo pury sempre obtiveram respostas aos seus korónáe.

O Canto Oracional Koróná NUNCA poderá se transformar em uma exibição artística, NEM se transformar em um folclore, pois é uma ação sagrada do povo pury, com uma profunda vinculação a alma ancestral pury, à consciência coletiva ancestral pury (tutákiára pury), na qual somos ainda abençoados enquanto remanescentes étnicos.

Ksapernhê tinxú! Minha saudação aos ancestrais que comigo conviveram (de 1939 até 1959), que foram pessoas significativas da minha existência, colaborando para a minha formação de base, através da qual consolidei o meu caráter pury, me tornando o purinã (marca individual, identidade singular, puricidade).


(*) Praticado nas aldeias rurais e comunidades pury da região de Giricema/MG (Cruzeiro dos Gregórios, Valão, Tuiu(i)tinga [como o povo pury pronunciava], Alto da Serra e Sapé, em Guidoval, entre outras).

 
 
 

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