Ressurgência Pury (Purí) sob a Perspectiva de uma Autodeclarada
- Puri Vivo
- há 3 dias
- 3 min de leitura
Por Carmelita Lopes - Ñáma Telikóng Pury

Primeiras notícias do Povo
Os Pury, povo indígena originário do Brasil, tem as primeiras menções e registros históricos desde o período colonial. O etnômino “Pury”, não autoproclamado, aparece com múltiplas grafias nos registros históricos: Purí, Puri, Pury, Pory, Puríú/ Poriei/ Pories /Pouris, Puari, Puqui/Pucki, com significado exato desconhecido. Foram descritos em documentos e ilustrações (gravuras e desenhos) de viajantes com características culturais específicas do ponto de vista deles, como o uso de pinturas corporais com urucum e jenipapo.
A diáspora e o apagamento (epistemicídio)
O Povo Originário Pury foi tido como extinto na história oficial desde o Censo Geral (1872) do Império (1822 a 1889), o primeiro da história do Brasil, numa diáspora indígena, quando foram classificados como ‘pardos’ os indígenas, que viviam em aldeamentos ou postos indígenas, sob a alegação de que não era mais puros e faziam parte da população geral. Com documentos oficiais desaparecidos- paradigma da extinção como política indigenista e a cultura do silêncio– o empardecimento, o apagamento dos saberes, da cultura e da língua pela imposição colonial e estatal, transformaram o Povo Originário Pury em ‘personagem mítico’, ou seja, um personagem lendário não mais existente.
Distribuição geográfica originária
Originalmente, os Pury habitavam territórios nos Estados do sudeste brasileiro (SP, RJ, MG, ES). Território Registro Originário Em áreas do interior da região sudeste (SP, RJ, MG, ES) do Brasil em 1597, 1645, 1800, 1831, 1849, 1880 e em 1886. Localização Do Vale do Paraíba, seguindo o curso das águas da Bacia do Rio Paraíba do Sul, passando por municípios dos estados de SP, RJ e MG: Pury, Koroado e Koropó. Do alto curso do Rio Doce, na bacia hidrográfica do Rio Doce, incluindo Rio Manhuaçu, passando por municípios de MG e ES: Pury, conforme Mapa etno-histórico do Brasil e regiões adjacentes (Nimuendajú 1987), adaptado do mapa de Curt Nimuendajú, 1944. Documentadamente a arqueologia estabeleceu correspondências mais sistemáticas dos Pury com materiais arqueológicos associados à Tradição Cerâmica denominada Una. A presença dos Pury era significativa nas áreas de floresta, serras e rios, onde praticavam atividades tradicionais de subsistência: "agricultura itinerante", coleta, caça e pesca, com práticas sustentáveis. Foram alvo de perseguição, violência e processos de deslocamentos forçados com a escravização indígena e extermínio sistemático por parte de colonizadores, fazendeiros e autoridades imperiais.
Distribuição geográfica contemporânea
Somos indígenas DO (não em) contexto urbano e rural (meeiro ou proprietário) desaldeados, espalhados por todo território nacional em consequência da invasão em nossos territórios originários, num processo de emergência identitária por meio da etnogênese—recriação de vínculos e práticas culturais ancestrais. Atualmente, há comunidades consanguíneas no contexto rural reconhecidas como Pury, que resistiram por meio da manutenção de laços familiares, memórias orais e práticas culturais ocultadas, num processo de reafirmação identitária e territorial. O Censo IBGE/2010 registrou 675 autodeclaradas(os). Sendo que, 169 em cidades do RJ, 335 em cidades de MG, 113 em cidades do ES, 24 em cidades de SP e em menor número em outros Estados.
Os pury na contemporaneidade
Em grande maioria, somos os “ressurgidos Pury” do século XX e XXI habitantes das nuvens- que se comunicam, principalmente, através das mídias sociais com ações em conjunto para a realização de encontros presenciais e vivências organizadas pelos Pury autodeclarados, abarcando, principalmente, o eixo Minas-São Paulo-Rio de Janeiro Espírito Santo. Muitos de nós ainda enfrentam o desafio de serem tratados como indígenas nos espaços urbanos por não terem os “marcadores” esperados (língua fluente, território demarcado, aldeado ou de aldeamento). Existe um Movimento Indígena Pury que abarca Movimentos distintos voltados para a articulação política e cultural como o Movimento de Ressurgência Purí (MRP), criado em 2014. Há espaços de difusão da cultura, da história e da língua como o Museu da Cultura Purí (MCP), criado em 2023 num espaço físico no Rio de Janeiro, e o Centro de Memória do Povo Purí (CMPP), criado em 2020, num espaço virtual, onde temos um acervo sobre nosso Povo, história, língua, cultura, território, etnomedicina e tradições distribuído em sementes, contendo documentos históricos, teses, dissertações e artigos para consultar e baixar. Há ainda, ações individuais voltadas para as artes, literatura, música, teatro e artesanato contemporâneo.
O texto: “Ressurgência Pury (Purí) sob a perspectiva de uma Autodeclarada” reporta pontos do Capítulo 2– Sobre o Povo Pury da dissertação de mestrado (2024) da autora intitulada “Introdução à Análise Fonológica da Língua Pury na Modalidade de Guiricema (MG): por um trabalho de Memória e Ressurgência”, realizada sob a orientação da Profa Dra Tania Conceição Clemente de Souza.
Viva o Movimento de Ressurgência Puri na Zona Campos das Vertentes, Serra da Mantiqueira, na Bacia do Rio Grande onde está inserida!