por Nhãmãrrúre Stxutér – Felismar Manoel
As comemorações do Povo Pury, a partir das decisões do encontro das lideranças na primeira década do século XX, passou a atrelar as suas festividades étnicas por ocasião de algumas festas significativas dos povos brancos da região como estratégias de sobrevivência da cultura e dos valores.
As celebrações e as festividades pury aconteciam nos terreiros das fazendas. Eram festas inculturadas (no conceito missionário), envolvendo os pury e os italianos. Os pury de primeira geração usavam três tipos de instrumentos: a flauta feita de taquara ou taboca, ou bambu e os tambores, geralmente sustentados a altura da cintura; e as maracas, ou chocalhos. Suas danças, nas festividades gerais, geralmente, usavam os tambores (percussão). Nas danças de rodas, tambores e maracas. Nas festividades só de parentes, as maracas. A flauta, quando celebravam a alegria, na intimidade dos encontros mais poéticos. Em todas as festas havia o mastro de Tupã. Como o pury é um elemento da natureza, as festas eram sagradas e profanas. São preferivelmente organizadas e desenvolvidas pelo grupo dos pury sãbonã, aqueles reconhecidos sanderí (festeiros).
Sou da terceira geração pury. Convivi com os de segunda geração e muito raramente com alguns de primeira geração. Na minha infância, assisti com relativa frequência as danças pury com cantorias nos espaços religiosos do catolicismo popular assimilado numa convivência harmoniosa nas fazendas italianas (diferentes das fazendas portuguesas, onde havia hostilidade).
Na festividade das flores/dos perfumes, que é a primavera (equinócio da primavera), é quando se festeja a mocidade/juventude também, atreladas ao dia de São Mateus Apóstolo, com jogos e desportos da mocidade, Dança dos Caboclos, ritos de passagem da adolescência para a fase adulta com a mudança de nome dado pela mãe ao nascer para o nome do caráter pessoal e o encontro dos jovens para ouvirem a contação de história da ancestralidade, a Txambô.
As festas duravam a fase da lua cheia (cerca de sete dias próximos ao dia dos Santos Gabriel, Rafael e Miguel) com a comemoração pury dos Okoróe (môokorama), as divindades dos céus, abaixo de Dokóra. Embora Dokóra seja o nome, que o povo Pury, atualmente, mais reconhece, na minha região chamávamos de Nhãmandú. Mas, não importa o nome, pode ser Deus, pode ser em Nhãmandú, pode ser Dokóra, o Grande Espírito.
Nesse período, a Txambô - história da ancestralidade, que é quase um ritual, se repete em celebração a festa das flores, que é a festa da juventude por ocasião da estação das flores. É um momento nas celebrações que o antár, mais velho em idade, ou o opê-antár, mais velho com autoridade, vem ao encontro dos jovens, principalmente, da juventude e narra a história da ancestralidade.
Existe uma Txambô, que é da ancestralidade, mais geral na festa das flores contada pelo opê-antár, maior da aldeia, ou rré, ancião, indicado (homens na cultura da etnia). E a Txambô, que é mais da ancestralidade parental consanguíneo que começa na primeira infância contada pela mãe (mulheres na formação da etnia) anualmente na ocasião da apresentação da lua cheia até os seis anos e de sete ao opê-tarré.
RRÔ! GÍMBA ZÍMBO POTÉ KANDÚ (Que o faisqueiro acenda o fogo)! Que DOKÓRA abençoe a todos e TUPÃ nos proteja. Boa sorte a todos!
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