por Sonia Ortiz
As diversas gravuras de RUGENDAS E DEBRET, somadas aos registros dos viajantes, revelam parte da história dos indígenas do Sudeste. A gravura de DEBRET: Típica aldeia de caboclos, de 1835, me reporta à forma como os europeus fizeram contato com os indígenas da região. Nela um indígena, seguido por europeus, mostra a outros da aldeia uma garrafa, provavelmente de cachaça, como escambo para a caça. Com o objetivo de viciar os indígenas Puri, os europeus usaram muito dessa iniciativa. Indígenas da Região da Mata, em sua maioria originados da Ásia e das Filipinas, tem uma deficiência de Aldeído Desidrogenase, a enzima que metaboliza o álcool, o que gera uma intolerância ao álcool e dependência.
Aquela realidade de buscar cativar e subjugar outros para escravizar não mudou muito até os dias de hoje. Os processos são outros, mas a intenção é a mesma: ao trazer a cultura europeia, Jesuítas, bandeirantes e sitiantes pretendiam apagar a cultura dos povos originários, desculturá-los e invisibilizá-los para mantê-los sob domínio. Assim ocorreu em Valença, e de certa maneira ainda ocorre. Uma realidade que poderia mudar se a Prefeitura de Valença cumprisse a Lei Estadual 9.457/21 e, através de diferentes linguagens, inserisse no currículo da Educação Básica a história e a cultura dos indígenas dessa região que estão imbricadas na cultura valenciana.
O que o colonizador pretendia era uma aculturação, apagamento da cultura indígena pra colocar a do branco, o rayon. Em um movimento contínuo culturas diferentes se transformaram. Houve muita crueldade com os indígenas para que não falassem sua língua e abandonassem sua cultura; chegaram a cortar a língua daqueles que insistiam em não falar o português. Esconder do branco, o rayon, a cultura indígena, passando-as aos familiares foi uma forma de resistência. Há evidências disso quando o Movimento de Ressurgência Puri (MRP) busca em várias localidades e encontra nelas núcleos de Puri que preservaram a cultura e que agora se somam aos que fazem a Ressurgência Puri.
Conforme Marcelo Sant’Ana Lemos, os relatos dos viajantes no século XIX, que entraram em contato com diferentes culturas de indígenas falantes da língua puri-coroado, revelam uma cultura musical interessante, com cantos e danças. As pesquisas desses viajantes descrevem a tradição nas aldeias ou nos aldeamentos das capitanias de Minas, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo.
Indígenas Puris, Coropós, Coroados, Araris e outros tinham cantos e danças diferentes. Acompanhados por chocalhos nas pernas, maracás, flautas, tambores, reco-reco e cornetas, os indígenas dançavam e cantavam. Alguns dos falantes da língua Puri como os Coroados dançavam em círculo, dando pulos pra esquerda e pra direita, pra trás e pra adiante. Puri dançavam em fila circular ou não e avançavam com um passo maior pra frente e um menor pra trás. Em outras danças circulares como as que hoje ainda encontramos na Serra dos Arrepiados, em Minas Gerais, cruzavam os passos para a esquerda e depois para a direita e davam pulos. Danças ora regadas por um canto triste com gritos longos e agudos, ora cantos vigorosos de festejos de combates.
(Texto completo na subpasta "trabalhos acadêmicos e pesquisa dentro da pasta maior "Cultura e Tradição" na página do Centro de Memória do Povo Puri)
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