Por Marcelo Sant'Ana Lemos (2018)
Vem de longa data o povo indígena Purí. Para os arqueólogos, seus ancestrais seriam vinculados a Tradição Una e estariam presentes no Rio de Janeiro há mais de um milênio, sendo que em Minas Gerais essa presença seria mais antiga ainda.
Grandes conhecedores da floresta de Mata Atlântica entre a Mantiqueira e a Serra do Mar, viviam circulando pelas bacias dos rios Paraíba do Sul, Itabapoana e Doce onde eles retiravam o seu sustento, praticavam a sua medicina e espiritualidade.
Localizavam suas habitações (“nguaras”) de forma esparsa pela mata, que abandonavam quando a alimentação ao redor escasseava, o que diferenciava sua organização espacial de outras etnias que tinham outras configurações para aldeias. Tinham também contatos intermitentes, para algumas trocas, com os invasores europeus do litoral, no atual sudeste brasileiro.
O avanço da escravização indígena no século XVII sobre povos indígenas do Vale do Paraíba do Sul, levada a cabo pelos paulistas, levou aos primeiros conflitos com Purí, que foram escravizados e usados como mão-de-obra na construção de Taubaté (SP). Neste mesmo século, tentativas de catequização de outros Purí, que moravam no vale do rio Piabanha (afluente do rio Paraíba do Sul, no Rio de Janeiro), fracassaram.
Com o avanço da mineração sobre a atual Minas Gerais, no século XVIII, aumentaram os conflitos e contatos com os Purí existentes também na chamada Zona da Mata mineira, fronteiriça ao Rio de Janeiro e ao Espírito Santo.
Ao longo do século XVIII e início do XIX a sociedade colonial estabeleceu um cerco cada vez mais apertado nas áreas de vivência Purí, levando para eles doenças, guerra (entre 1808/1831, declarada por D. João VI), desterritorialização e por fim aldeamentos daqueles Purí que aceitaram a catequização.
Surgem então como resultado desse processo diversos aldeamentos, nos séculos XVIII e XIX, com a presença de Purí, que ajudaram na formação de várias cidades no Rio de Janeiro, Minas, São Paulo e no Espírito Santo, como por exemplo: Queluz (SP), Santo Antônio de Pádua (RJ) e Muriaé (MG).
Os aldeamentos eram os locais onde se concentravam etnias indígenas para diversos fins nas políticas indigenistas no período colonial e no Império (catequização, liberação de terras, defesa de território, tentativas de assimilação, trabalho compulsório, entre outros). Mesmo submetidos a esses processos os Purí, como outras etnias, resistiam e tinham aspirações próprias nestes espaços, o que resultavam em fugas, conflitos, negociações e eventuais conquistas.
A partir da segunda metade do século XIX, os Purí do Rio de Janeiro, que não estavam nos aldeamentos, não foram mais objeto de nenhuma política indigenista por parte do Estado Brasileiro.
Na década de 70, do século XIX, tiveram suas terras sequestradas para fins de colonização estrangeira. Assim passaram a ser exilados na sua própria terra sofrendo processos de desterritorialização, desaldeamento e se tornando mão de obra barata das fazendas criadas em seus territórios, num processo de etnocídio acelerado, com perda de identidade, invisibilização e início da diáspora Purí.
Maravilhosa essa matéria, me tirou uma grande dúvida se a terra de Queluz era dos povos Purís ou Purus. Eu vinha de Pouso Alegre e parei para tomar café no Graal em Queluz. Lá tem uma placa que conta um pouco da história da cidade e me revoltei quando li "Nascida de uma aldeia dos índios Purus, o nome Queluz é ...". Nem o nome certo do povo que teve a vida, a terra e história roubados eles colocaram certo. É algo que precisa ser corrigido!