de Gabriel Duarte
Quero registara que esta poesia que escrevi, que intitulei como " Índio não, Purí! " nasceu a partir da vivência e experiências que tive na 13° Troca de Saberes – UFV (2022) e como inspiração. O texto surgiu assim, naturalmente.
A parente Zélia Purí, em que acredito ter sido a inspiração principal e especial no fazer poético enquanto eu editava e " re-memorava " as fotos das vivências da troca. Por isso escolhi uma foto dela em atividade nessa Troca de Saberes para honrar e homenagear sua energia, carinho, carisma, acolhimento, sinceridade, sua arte indígena poética e musical e muito mais que não cabe aqui em palavras, assim dando origem, desse modo, no meu fazer poético de criação do texto.
Além disso, e não menos importante, incluo como inspiração todos os parentes Purí e participantes das trocas, a sabedoria compartilhada e partilhada, o ambiente, os pássaros, o vento gelado, as comidas, as músicas, a grama, os bambus.
Enfim, tudo aquilo que nos faz sentir, apreciar, contemplar, reflexionar, agradecer e nos faz sentirmos vivos e pertencentes a essa terra que é a nossa terra indígena. Ténu-arrí!
Somos a grama, a raiz que conecta os corpos
O vento, a maritaca que canta alto
O tempo, a energia que estremece as nuvens
Você ri
Mas não sou índio, não vim da ÍNDIA
Somos Purí
Somos a semente, a árvore, mpô (árvore)
Oxalá, axé Purí-negô
Somos caboco
A terra, o bambu tecido que resiste
a noite, o morcego
Somos Purí, índio não
O olhar pesado
De um passado que vem repensado
Ressurgir com urgência
Somos o necessário
Somos a koára, o abrigo no mato (Koára - abrigo provisório Purí)
a luta contra o descaso!
Os verdes, os marrons, os pardos?
Somos a paleta inteira
Eu tava na mata, vem e desmata
Não nos encaixe, não há caixa que caiba
Não nos rebaixe, não adianta.
não há altura que nos mata
Somos os céus, o voo dos pássaros
Somos os ventos, que conduzem para a mata
Somos urubus, valoramos o que vocês rejeitam
Somos a pedra no seu caminho
Nenhuma bota nos para
Temos a força que precisam
somos a taquara, envergo mais não quebro
Seremos a cobra, shahmûm samman (cobra)
que derrubarão sua selva de concreto