Olivia Batista – Mopúia Karúá Purí
Quando fui para o conservatório, aos quase 45, encontrei um professor que me viu como muito rústica para o Canto Lírico. Não havia o Canto Coral que eu ansiava e que havia sido interrompido no ginásio pela Lei 5692/71 e eu não conseguia aprender ler uma Partitura Musical. Ainda assim participei da última audição, segui meu rumo, me conformei e até agradeci a esse professor por essa definição.
Aos 47 fui aceita no grupo teatral CENARTE e aos 50 surgiu em mim a palhaça Maria Zoronga que conseguiu responder às minhas muitas perturbações recorrentes.
Quando a apresentei ao meu primo, um estudioso do Clown, ele reafirmou o quanto eu era grotesca e que Zoronga não era uma personagem e sim uma expressão do meu próprio eu interior.
Daí surgiu essa Poesia recentemente transcrita para o Puri que completou em mim todo esse processo de busca pela minha identidade e a qual denominei. Com ela eu pude entender que a rebeldia, a rusticidade, a simplicidade, os questionamentos e as atitudes não eram simplesmente loucuras da minha cabeça.
Ser Purí /Pury Rrône
Sou pedra bruta / Gá rrône ukruá
Fincada no chão / Andó rriône utxé
Suja de barro / Arpóe unhum edjé
Molhada de chuva / Aróma nhamâkú
Gosto de fruta no pé / Tamatíe morké ambó
Trepada na árvore / Bokuaéme
Cheiro de mato / Ómle un tistxóre
Pé descalço / Txaperê atxé
Caminho de terra / Tsinô utxô
Lua e sol / Petára, Opei
O olho cintila / Â mirô merimaté
O sorriso revela / Ã lipône koiuaé
O que a alma pensa / Tutáki nakotxoté
Vem do coração / Tokéra mouné
Ténu-arrí! Gratidão aos mestres Néri Contin, Fábio Sena, Klaas Kleber e Felismar Manoel
Primavera/23
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