Apresentado no XXIX Simpósio Nacional de História, em 2017. O historiador
Gustavo U. Guimarães procura investigar, como sugere o título, a presença e os vestígios indígenas na formação e atualidade do município de Virgínia. Localizado na Serra da
Mantiqueira, o município faz parte da microrregião do entorno de Itajubá, contando pouco mais de 8 mil habitantes segundo os dados disponíveis.
No artigo, recorrendo aos relatos orais dos moradores que remontam a histórias,
no mínimo, da primeira metade do século XX, o autor toma como ponto de partida a
percepção de uma cultura material e oral “mestiça”, onde elementos indígenas e da cultura portuguesa aparecessem condensados ainda que estejam presentes os traços, a cerâmica e mesmo vestígios de aldeias, especialmente no bairro denominado Marques.
Nesse espaço, famílias indígenas e brancas foram assentadas, mas a comunidade guarda a memória da presença de famílias e indivíduos indígenas, até pelo menos a década de 1920, ainda que o relato que o historiador receba tenda a romantizar o processo de convivência que se estabeleceu entre brancos e indíos e posteriormente a miscigenação.
Habilmente, Gustavo U. Guimarães questiona os limites desses discursos e propõe perguntas: “até que ponto as violências eram próprias dos indígenas do bairro Marques? Tais violências não podem ter partido dos colonos brancos que chegaram ao local?” (p.10) essas e muitas outras perguntas que instigam a curiosidade e que devem ser respondidas com o desenvolvimento de pesquisa posterior.
Voltando aos registros oficiais, Guimarães assinala a presença original de indígenas no município com o registro de “pardo” que acabou diluindo o reconhecimento da presença das populações originárias, no processo histórico de apagamento de
diferentes etnias, como foi uma constante na formação da história do Sudeste e na
consequente historiografia predominante até meados da década de 1990. Dentre os
diversos grupos que habitavam Virgínia e a microrregião, estavam os Puri, cujos vestígios físicos, como objetos, como antigos cachimbos, estão lá e compõe o acervo de museus como o Museu municipal de Virgínia.
O artigo ao privilegiar o território de Virginia dá um exemplo do processo de
apagamento da presença indígena no Sudeste, bem como acaba sublinhando os desafios da tarefa de uma retomada, de ressurgência. Sem dúvida, uma leitura fundamental.
Sou de itajubá, e tive lendo isso e fazendo perguntas para a minha avó sobre essa questão. Ela era originalmente de Carmo de minas (Antiga parte de Pouso Alto) e minha bisavó era indigena. Classificada como parda e chamada como povo da terra. Nuca tive a oportunidade de aprender um nome pois minha bisavó já se foi, mas esse tipo de pesquisa me deixa tão feliz de finalmente aprender mais sobre a história da família que foi quase esquecida.
Sou Puri, minha bisavó foi pega no laço. Meu pai que chegou a conviver com a avó puri, já desencarnou. Estou feliz em participar desses grupos e conhecer um pouco dessa cultura, em honra a meus ancestrais.
Gratidão!!!!