Nhãmãrrúre Stxutér - Kaiá (Felismar Manoel)
A transição para o Ano Novo Pury ocorre no Equinócio de Outono (início do outono), dia 20 de março de 2022, às 12h33min, dentro da semana lunar cheia (alegre) entre 18 e 25/03/22 - Kuruindó petára taglemã.
É dia de meditação individual sobre o novo ano e da vigília da enchente das goiabas, a primeira chuva que ocorre entre a lua nova e a cheia, indicando um ano novo abençoado. “Tempo de estabelecer nova ordem mental e afetiva com o bem e a ordem natural (tekuára-sú).”
Já a marcação do novo ano lunar começa na primeira lua nova próxima ao Equinócio de Outono, dando início ao primeiro período lunar de treze lunações (treze rotações à volta da terra), numa interação entre os movimentos do sol, da lua e da terra. Para os pury, cada lunação tem uma duração de cerca de 28 dias com quatro fases lunares: nova, crescente, cheia e minguante, sem considerar as fases intermediárias.
Ponãvi isikáia (Ponãvi: marcar, colocar marca / isikáia: o tempo que se conta) é o marcador de tempo do ano pury; é um produto da cultura oral pury, registrando o levantamento que os môantár (anciãos) da ambó-goára (aldeia rural) faziam, através das leituras dos céus, expondo-o na Tapéra própria ao pé da montanha sagrada, para ser consultado pelas pessoas na medida que necessitassem de se orientar.
Constava de um círculo de cipós, ou fibras de sisal, trançados, consistente, e nele contendo treze ganchos distribuídos harmônicamente equidistantes, conforme os meses lunares fossem avançando, onde a cada mês lunar se colocava o disco, ou placa, contendo as quatro indicações das fases da lua, sendo este monumento guardado, acompanhado e assistido por um guardião (Tekondô), que atualizava a movimentação de tal disco ou placa, a cada sete dias da fase lunar, para no final de vinte e oito dias avançar o novo mês lunar.
Embora seja um artefato material, com marcas convencionais, tudo é resultado da sabedoria pury (trirronára pury) com o cultura oral.
Nos tempos primitivos, era comum o verão ser dividido em duas partes: o verão propriamente dito, de tempo quente e chuvoso (geralmente começava no fim da primavera), e o veranico (estio) de tempo quente e seco. No período de do veranico (estio) se recolhiam em reza para que o veranico não trouxesse dificuldades. Era um período de introspecção com meditação, rezas e dedicação ao místico. E se preparavam para o ano novo.
As estrelas cadentes (meteoros) são interpretadas pelos pury como o envio de Lamã Encantado a serviço do bem-estar dos vivos, sendo enviados por Tupã, quando cada meteoro é visto caindo das alturas. Se este cair em seu território, passa a ser reverenciado como prova dos cuidados de Dokóra e Tupã pelo bem-estar dos vivos, fortalecendo a ideia de que todas as divindades são reais e não só lendas.
Quando ocorre um intenso derramamento de estrelas cadentes (ou chuvas de luz), os pury aguardam que, na lua seguinte, surja novas evidências de encantados ajudando os seres vivos. O eclipse do sol, quando é fenomenicamente perceptível, causa impacto no povo Pury, que fazem rezas cantadas pedindo misericórdia de Dokóra em favor dos seres vivos.
Quando surge o fenômeno da lua de sangue, os pury se recolhem, e logo após, geralmente procuram ser abençoados pelo Opê-antár ou pelas pessoas espiritualizadas da aldeia (táne-koimã, ou táne boemã).
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