Ñáma Telikóng Pury (Carmelita Lopes)
Além da visão geral de mundo comum a todos do Povo Pury de diferentes territórios, existe a especificidade de cada território e seus signos, que geram histórias, que alguns chamam de mitos ou lendas.
Temos nossas Árvores Sagradas:
- a Acaica (Cedrela) – Acayacá para os Pury, ou Cedro rosa (Cedrela Fissillis Vell) (possibilita a conexão com o Divino), veja a Lenda dos Diamantes, no município de Diamantina/MG;
- a Timburibá (Cassia leptophylla), árvore símbolo do município de Resende/RJ. Dar um galho de Timburibá a alguém é entendido como um gesto de amizade e paz. A história, contada pelos mais velhos, está registrada no livro do historiador e jurista João Maia (1886) que conviveu com os Pury do município;
- a Cuité (Crescentia cujete L.), Aldeia Rural Pury da Fazenda dos Gregórios em Cruzeiro, distrito de Tuiutinga, no município de Guiricema , Zona da Mata de M.G. Dedicada ao “Deus da Criação de todas as coisas”, Nhãmãndú/Dokóra, cuidada e protegida pelo “Grande Espírito Protetor”, Tupã , cuidador da alma fisiológica dos seres vivos, tutaki, no mundo espiritual e por um guardião da árvore sagrada, Táne koimã, na comunidade. Os frutos (cuieiro), quando serrado ao meio fazendo duas “cuias”, são usados para servir alimentação, bebidas, ou mesmo para guardar comidas prontas.
- a Sapucaia ou Cabeça de macaco (Lecythis Ollaria ou L. Pisonis) presente em vários territórios, está ligada aos mistérios da existência. É fonte de alimento e matéria prima para os utensílios, assim como o fruto da Cabaceira (Crescentia cujete), a cabaça.
Nossas Sementes Sagradas:
- semente de capim rosário (Coix lacryma), pinhõnhã, que teve sua simbologia: “nasceu do choro de uma mulher fugitiva à beira d’água, uma mulher que fugia da dor de ter visto seu povo ser morto, de ter sido tirada de junto de todos os que amava, da dor do estupro, da escravidão, de não poder falar mais sua língua, de ter de negar suas crenças.”*;
- (...) a criação Divina (Dokora), nos deu as sementes e a sabedoria para usá-las. Em minha família minha avó Belina Lúcia da Silva (Alke Churi Purí), sempre dizia: “as sementes são nosso tesouro, com elas alimentamos nosso corpo e nosso espírito”. Ainda sob a influência e conhecimento ancestral desenvolvi alguns colares, enfeites e brinquedos. São eles: colar de saboneteira de macaco para limpeza e força; sementes de lágrimas de nossa senhora para proteção e pureza; sementes olho de boi para afastar energias negativas; sementes de aguaí para o equilíbrio do corpo e da mente; sementes de pau ferro para dar força e resistência aos guerreiros; cabaças ou porongo. (Texto de Carmel Purí na íntegra no CMPP). Também Johann Baptist von Spix e Karl von Martius, em viagem ao Brasil (1817 a 1820) nas Províncias do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Pernambuco, Piauí, Pará e Amazonas, descrevem três das sementes usadas pelas mulheres Pury. fios de sementes pretas e vermelhas (Cantia glauca, Abrus precatorius e Ormosia coccinea Jacks )”.
Nosso Tradição marcada nas Formações Rochosas:
- a história do “Gigante Adormecido”, que conta sobre os Pury que viviam no vale na Serra da Mantiqueira (o pico em todo seu contorno, tem aparência de um “gigante deitado” ou de “nariz de gigante”), em plena paz uns com os outros e com a natureza.
- a “Mãe do Ouro”, registrada por Olian Jose (1965), em que os Pury que habitaram até o início do século XX, às margens do Ribeirão de São Manuel, quase divisa com Espírito Santo, diziam ver uma bola de fogo saindo de um determinado local e pousando em outro, geralmente uma pedreira, para nela depositar ouro.
- a Pedra Redonda, existente na Serra dos Brigadeiros/MG, formada pelos municípios de Araponga, Divino, Ervália, Muriaé, Fervedouro, Miradouro, Pedra Bonita, Rosário de Limeira e Sericita, antiga Serra dos (Purí) Arrepiados à Pedra Redonda, existente na Serra dos Brigadeiros/MG, formada pelos municípios de Araponga, Divino, Ervália, Muriaé, Fervedouro, Miradouro, Pedra Bonita, Rosário de Limeira e Sericita, antiga Serra dos (Purí) Arrepiados , usada pelos Pury como um ponto de observação e como indicador de fartura quando a Pedra Redonda chora, usada pelos Pury como um ponto de observação e como indicador de fartura quando a Pedra Redonda chora.
- o Pico do Itabira (ou Pedra do Itabira), formação rochosa localizada no município de Cachoeiro de Itapemirim, no sul do Espírito Santo, considerado pelos Pury, primeiros habitantes dessas terras, o Senhor da Fertilidade por sua forma fálica. Acreditavam que nasceriam mais meninos se copulassem aos pés dessa pedra, e assim mais guerreiros e mais caçadores.
- a Pedra Sonora, tombada pelo Patrimônio Histórico e Paisagístico de Resende, localizada na Serrinha do Alambar, Serra da Mantiqueira, Resende/RJ, onde, de acordo com a tradição Pury do local, aquele que bater nessa pedra e provocar a emissão de seu som característico, se livrará de acontecimentos trágicos pelo resto da vida.
“Viva aceso, olhando e conhecendo o mundo que o rodeia,
aprendendo como um índio, seja um índio na sabedoria.”
(Darcy Ribeiro)
Ilustração: fragmento do Mapa etno-histórico do Brasil e regiões adjacentes (Nimuendajú 1987), adaptado do mapa de Curt Nimuendajú, 1944. Rio de Janeiro: IBGE
(*) BAIA PRESTES, Andréia (Raial Orotu Pury). A Semente de Lágrimas. Coletivo Pury & Amigos. Coleção Semear 8 – Coletânea Literária, 2017. p. 22-24
Também sou Pury de Ijaci. Quero ajudar no resgate de nossa história e cultura.
Lindíssimo! Conheço alguns dos locais descritos! Emocionante conhecer suas histórias!
Lindo texto!!!
Parabéns!
Demais!!!!
Obrigado pelo texto maravilhoso e abertura dos caminhos de aprend. gratidão