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O Povo Pury da região de Guiricema-MG e o Festival das Luzes (solstício de verão)

Foto do escritor: Puri VivoPuri Vivo

Nhãmãrrúre Stxutér / Felismar Manoel

 


As comemorações do Povo Pury da região de Guiricema-MG (se compreende as comunidades de Cruzeiro dos Gregórios, do Valão, de Marianas de Tuiutinga e do Sapé, em serras de Guidoval), a partir das decisões do encontro de lideranças pury da região, em 1903, passou a usar como estratégias de sobrevivência das suas culturas e valores, atrelar as suas festividades étnicas, por ocasião de algumas festas significativas dos povos brancos da região, que também ocorriam cerca do mesmo tempo.


As celebrações e as festividades pury são preferivelmente organizadas e desenvolvidas pelo grupo dos Pury Sãbonã, aqueles reconhecidos sanderí (festeiros).


Em dezembro, quando acontece o dia mais longo, o Sol atinge sua posição mais alta no céu, com o dia de maior período luminoso, sua fase de luz (eremá opér) e a Lua atinge a fase crescente, começam as preparações para as festividades da Celebração do Dia Grande e o Festival das Luzes, ou Festa das Luzes no solstício de verão (21/12/24) com uma grande saudação ao Sol na manhã posterior ao dia do solstício – período da comemoração do Natal cristão ocidental. 


Na vivência do Povo Pury de Guiricema, quando acontece o dia grande (eremá oper) e com ele a Festa das Luzes, com homenagens a luz do sol (opei), a celebração central ocorre na fase da lua cheia com bebidas refrescantes, geralmente as águas de abacaxi e ananás, de maracujá, chás de cidreira e capim limão.  Encerra-se as festas com a Dança de Caboclo e trançando fitas no mastro de Tupã. Os adultos dialogam com as crianças nos cânticos, uns cantam os versos e os outros respondem. A alimentação nesta festividade é mais livre, sem algum elemento que caracterizasse, mas privilegiando o que se tem fartura na época. 


Usa-se armar no meio da praça ou do terreiro, em lugar ventilado, uma cobertura de duas águas, tipo xoupána, mas sem as paredes, sendo ali o lugar central das bebidas refrescantes e o lugar do vozerio e cantarolar. Evita-se a exposição demorada à luz do sol.


Faz-se homenagens aos clarões dos relâmpagos, à luz fogo, das tochas, das estrelas e do arco íres (krauá íuaúneké), sendo que esta homenagem sempre fica para o fim das celebrações, pois considera-se que nele Nhãnãdú / Dokóra fortalece a iluminação (saimá) dos Encantados, que neste festival vem conviver alegremente com os pury, recebendo-os em suas casas, as árvores frondosas, em cujas sombras descansam.

Neste festival se evita o acendimento desnecessário de fogo, para se evitar acidentes e males para os povos e comunidades.


Antigamente era comum o verão ser dividido em duas partes: o verão propriamente dito, de tempo quente e chuvoso, começando no fim da primavera e o veranico, chamado também de estio, com tempo quente e seco. Na época do veranico as comunidades se recolhiam em reza para que o período não trouxesse problemas. É um período dedicado a espiritualidade e meditação. Não é todo ano que esse estio ocorre.

 
 
 

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2020. Centro de Memória do Povo Puri. Criado coletivamente por indígenas Puri. 

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