o que você vê
quando eu vejo?
o que você diz
do que eu digo?
vejo os meus e os teus
ouço os teus e os meus
muitas vidas correm em meu sangue
meu coração é feito de muitos corações
vejo os filhos que não tenho
e vejo o filho, que é quem sou
numa rede bordada pelo sol
numa terra tocada por luas: gerações
lembro do passado
das cantigas cantantes na memória
que vagantes me chamam de filho
e que sabe dos mistérios que me fazem ser
tudo o que me faz ser gente, pessoa
e as gerações constitutivas de meu ser
giram e giram
pulsam e pulsam
cantam, batem o pé
sussuram, me aparecem em sonho
o maracá que nunca tive
quando tocado por alguém que o possui
a língua que há pouco senti
e que na boca sorri com sua doce bravura
os rezos e os cheiros que me lembram a infância
a mata perdida, o grito entre as montanhas
o puri no nome que agora ostento
um grito profundo, que do peito sai correndo
ouço, vejo, espio, sinto
os sentidos pacientemente trazidos por meu avô
como um rio melancólico a partir
e ouço, vejo, renuncio e me desvio
dos sentidos outros que não dizem muito
sobre mim e quem eu sou
simplesmente impecável! me apaixonei
Lindo texto falando de quem somos!