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CMPP entrevista Ed Andrade, autor do livro infantil "De que cor é a minha Puri?"

CMPP – Quem é Ed Andrade?

Ed Andrade - Meu nome é Edwilson da Silva Andrade, popularmente conhecido como Ed Andrade. Sou professor dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Natural de Nova Iguaçu, na baixada fluminense e residindo há 11 anos na cidade de Quissamã, no Norte-fluminense do Estado do Rio de Janeiro.

CMPP – Como e quando soube da ascendência Pury? Que pessoas você localizaria no tempo como seus ancestrais Pury (bisavó, trisavó) que você tem notícia?

Ed Andrade – Fiquei sabendo da ascendência Puri ainda na infância, quando os meus avós diziam que éramos Puri, mas sem explicar o que isso significava. Sempre fui uma criança que ouvia as histórias de família, principalmente, as contadas pelas avós. Assim fiquei sabendo que dos dois lados da família temos origem Puri. Por parte da minha mãe, a minha trisavó Joana, mãe do meu bisavô, era Puri, parteira e segundo minha tia-avó Amordivino Mascarenhas, de 88 anos, ela amava contar histórias envolvendo animais. Ainda, há relatos por parte da minha avó materna e sua irmã mais velha, que quando criança elas ouviam suas tias que conversando uma língua que elas não compreendiam. Por parte da família do meu pai, sabe-se da origem Puri. Contudo, não há uma localização exata. Porém, tudo indica que seria trisavó ou trisavô. Não se sabe ao certo, mas que de alguma forma seriam os avós dos meus avós paternos, que morreram muito jovens. O interessante é que a minha origem familiar é de Minas Gerais, tanto a família paterna que é da região central de Minas Gerais, na microrregião do Médio Rio das Velhas, quanto a materna, que é da zona da mata mineira e que sempre circularam pelos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais.

CMPP – Dentro da cultura de sua família há traços culturais, alimentares ou costumes que você identificaria como Pury?

Ed Andrade – Dentro da cultura familiar há traços que considero como de origem Puri, como a criatividade para o artesanato, que ainda permanece. A contação de histórias com o intuito de ensinar valores. Em relação a alimentação, acredito que o aproveitamento de alimentos (minha avó materna faz diversos tipos de bolos, até bolo de jaca, feito com o caroço da fruta), isso sem mencionar as ervas para fazer chás e remédios e a pequena roça com (plantação e cultivo de alimentos para subsistência) mesmo habitando em cidade grande. Não posso deixar de mencionar que até pouco tempo atrás, quando o meu avô paterno ainda era vivo, comíamos também diversos tipos de caça preparadas por ele, que era muito bom na cozinha.

CMPP – Como a partir do conhecimento familiar surgiu a vontade de escrever um livro?

Ed Andrade – A vontade de escrever um livro surgiu a partir do momento em que percebi que os guardadores dessa memória familiar estão envelhecendo, alguns descansando e carregando consigo nossa história, nossa forma de viver, outros, perdendo a memória com as doenças que os tem atingido na velhice. Por este motivo, contar as histórias que eu ouvi, as que eu participei para as novas gerações, é uma forma de deixar viva essa memória. Principalmente, pela oportunidade que tive de conviver com os anciãos da família, incluindo duas bisavós e um bisavô. Mas, foi com a partida do meu avô paterno em 2020, é que esse desejo aumentou. E assim, eu escrevi o meu primeiro livro "De que cor é a minha Puri?" para explicar a minha filha que na época tinha somente 5 anos as diferenças entre as pessoas, a começar pela cor da pele. Na mesma época escrevi outros textos, que estão guardados esperando o momento de se tornarem livros, como "Peri Purí e o pé de pequi" em homenagem ao meu avô falecido e a tradição familiar de comer pequi.

CMPP – Como você definiria esse livro?

Ed Andrade – O meu primeiro livro "De que cor é a minha Puri?" é uma obra infantil, uma ficção baseada em memórias familiares. E que nasceu justamente quando minha filha reproduziu dentro de casa o preconceito e o racismo vigente em nossa sociedade. Isso me incomodou muito como educador, como especialista em relações étnico-raciais e principalmente, enquanto pai e de uma família com ascendência negra e indígena. Deste modo, percebi que precisava fazer uma intervenção pedagógica no seio familiar, mas que essa intervenção não poderia se limitar a minha casa, a minha família... Ela deveria alcançar toda sociedade brasileira.

CMPP – Como tem sido a recepção a seu livro? Você acha que ajuda a despertar a curiosidade sobre a etnia?

Ed Andrade – A recepção do meu livro tem me surpreendido. Tenho participado de feiras literárias e percebo que ao mesmo tempo em que desperta a curiosidade das pessoas, da mesma forma há um desinteresse quando identificam que a obra vai contar a história de uma menininha indígena. Contudo, acredito que essa obra tem despertado mais a curiosidade sobre a etnia, bem como, muitas pessoas têm se expressado pelas redes sociais e pessoalmente que também tem ascendência Puri. Isso tem sido fascinante! A valorização de uma etnia que há um tempo acreditava-se que não existia mais, é essencial para demonstrarmos que apesar de tudo ainda estamos aqui. O livro não trata de questões diretamente relacionadas aos Puri, mas de uma forma poética traz elementos da cultura Puri, como as sementes, para explicar as diferentes cores da pele. Não posso deixar de destacar que a recepção do livro, me trouxe amizades nas redes sociais de pessoas interessadas e que trazem questões interessantes e inclusive me apresentam ditos populares que falam da cor da pele dos Puri, fazendo referência ao pinhão.

CMPP – Quais são os endereços eletrônicos onde as pessoas poderiam adquirir seu livro?

Ed Andrade – Os endereços eletrônicos onde as pessoas podem adquirir essa obra são:

CMPP – Que mensagem você gostaria de deixar para os demais Pury, ou pessoas interessadas em suas histórias familiares e ancestralidade Pury?

Ed Andrade – A mensagem que deixo para os nossos irmãos Puri e para os demais parentes, é que não podemos deixar a nossa história, a nossa memória e a nossa forma de viver morrer. Devemos, no tempo presente, sermos água, sermos luz, mas também sermos sementes, não somente para carregar uma ancestralidade indígena, apesar disso precisamos divulgar, produzir e propagar a base que servirá de alimento histórico e cultural para as próximas gerações, assim como as sementes, não deixando que a nossa forma de viver se apague com o tempo.



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