Marcelo Sant’ Ana Lemos
No bairro Jardim da Fonte, situado na cidade de Cachoeira Paulista (SP), no Vale do Paraíba do Sul, existe uma nascente de água chamada Fonte Mão Fria, cuja água está atualmente imprópria para consumo, mas já foi durante muito tempo uma fonte de água natural limpa que os moradores do bairro consumiam.
A origem da fonte está ligada a uma lenda que envolve indígenas Puri, que habitaram boa parte do Vale do Paraíba Paulista, inclusive na região de atual da cidade, e que hoje seus sobreviventes convivem com as populações desse e de outros municípios do Vale, mas agora como desterritorializados e invisibilizados.
A lenda romântica da Fonte da Mão Fria é passada de geração a geração, mostrando a ancestralidade da presença Puri naquela área, que se reafirma através dessa narrativa.
Diz a lenda que Maná, filha do principal “Cacique Taboré”, durante uma cerimônia “religiosa” dos indígenas, foi oferecida pelo pajé dos Puri ao deus Tupã, como forma de oferenda. A moça não gostou do seu destino, pois era enamorada de Catu, um jovem indígena como ela, que juntos queriam traçar seus próprios destinos.
Tupã furioso e inconformado com a decisão de Maná, que não aceitava o destino proposto pelo pajé, fez cair do céu uma mão de ouro nos campos, que ladeavam o Rio Paraíba do Sul, na região atual da cidade de Cachoeira Paulista.
Durante um passeio pelos campos, às margens do Rio Paraíba do Sul, a jovem se deparou com aquela mão do ouro caída na vegetação. Curiosa resolveu pegar a mão de ouro e assim que tocou no objeto ela sentiu seu corpo congelar, começando a afundar no terreno onde encontrara aquela preciosidade brilhante.
Ela foi sendo puxada para dentro da terra e quando já estava enterrada na altura do pescoço, duas lágrimas tristes escorreram do seu rosto, dando origem a fonte de água cristalina, que até hoje corre no bairro Jardim da Fonte. Dessa época em diante a fonte ficou conhecida como “Fonte da Mão Fria da indiazinha Maná”.
Hoje na frente da entrada da Fonte da Mão Fria existe uma escultura que representa a indígena da lenda, feita pelo artista Vandull dos Santos Pinto, em 2019.
Linda história de amor! Mas o deus Tupã também é da mitologia Puri? Porque eu pensava que o deus Tupã era relacionado apenas à mitologia Tupi, uma vez que, linguisticamente, o idioma Puri está relacionado ao tronco Macro-Jê, motivo pelo qual não teria os deuses do tronco Tupi em nosso panteão. Espero encontrar uma resposta pra essa questão algum dia. Que Manã e Catu tenham podido viver esse amor!!!